O contexto, os problemas e os desafios
O contexto
Não há nada mais complicado para a empresa
administrar que a perda da competitividade.
Esta perda é o caminho aberto para a agonia de todos os que nela trabalham.
Perdem os acionistas, perdem os contratados, e também perdem os seus
fornecedores. Não sendo restabelecida rapidamente, chega o estágio em que é
inevitável demitir os contratados treinados e habilitados para as funções, os
seus talentos, os seus “parceiros”.
Porque a empresa chegou a este ponto?
É provável que faltou avaliar contínua e
corretamente as tendências do
mercado, o contexto social e
principalmente os problemas internos,
para com isso elaborar o diagnóstico
e os desafios das mudanças necessárias, antecipando-se à perda da
competitividade. Mas se ela aconteceu, o desafio é reconquistá-la.
Reconquistar a competitividade pressupõe que
os produtos ou serviços da empresa ainda
têm mercado, ainda têm compradores
interessados, porém os custos de elaboração e administração e, portanto, de venda, estão acima dos preços
praticados pelos seus concorrentes. Possível questão de ineficiência.
Para sobreviver nestes casos, é imperioso diminuir
os custos diretos e/ou indiretos, ou então, alterar os
produtos/serviços para concorrer em um outro segmento deste mercado. Este é o
desafio, baseado em diagnóstico
confiável, elaborado por equipe imparcial
na sua análise.
Os requisitos
mais relevantes para a competitividade da empresa, isto é, para a sua
sobrevivência no mercado “para sempre”, são:
Competência técnica do Grupo.
Refere-se a “saber fazer” com a qualidade, custos e prazos previstos em todas
as atividades de produção e administração. Esta competência é das pessoas
contratadas.
Infraestrutura de produção de bens e serviços. Refere-se às instalações, máquinas e equipamentos de produção e
administração, em qualidade e quantidade necessárias para o montante a ser
produzido e administrado. A definição da infraestrutura adequada é feita pelas
pessoas contratadas.
Processos produtivos e de gestão.
Refere-se à forma de realizar e controlar as etapas de produção. A definição e
a aplicação dos processos são feitas pelas pessoas contratadas.
Ambiente de trabalho colaborativo. Refere-se
ao clima organizacional decorrente dos relacionamentos entre os contratados da
empresa.
Estes são os quatro pilares que sustentam a
competitividade da empresa. O processo de reconquista exige uma avaliação criteriosa destes 4 pilares.
A deficiência em qualquer um deles diminui a possibilidade de competição. Daí a
importância do ambiente de trabalho
colaborativo, saudável. É o mais complexo
pilar para ser administrado, pois envolve atitudes
e comportamentos de pessoas e têm influência direta nos
demais pilares.
O ambiente
colaborativo e saudável estimula nos contratados a criatividade na busca de soluções, no desenvolvimento de inovações, e permite a concentração e o foco nas atividades de produção das atribuições, o que reforça o comprometimento com a eficiência e consequentemente com a competitividade e a rentabilidade da empresa. Um ambiente
não saudável prejudica tudo isso.
A administração
da qualidade do ambiente de trabalho
é a atribuição principal da área de
Recursos Humanos. É ela que se dedica à manutenção do clima organizacional adequado à corporação. Esta administração do
RH tem a finalidade de orientar as atitudes
e os comportamentos individuais e
harmonizar os relacionamentos,
visando facilitar as interações
adequadas entre as equipes, através
do clima de confiança, e que permitam os processos fluírem naturalmente,
sem obstáculos. Enfim, tem por objetivo ajudar a conquistar e manter a sustentabilidade da Empresa, isto é, a
sobrevivência ao longo do tempo do próprio
grupo de contratados, incluindo os
profissionais do RH.
A administração
da empresa é baseada na cultura predominante em cada
organização, a sua forma de produzir os resultados. Esta cultura por sua vez é
constantemente confrontada com o ambiente
cultural da SOCIEDADE em que a empresa está inserida. É também influenciada
pelas novas tecnologias surgidas no
mercado, que alteram os equipamentos de produção e gestão, e portanto, os
respectivos processos de trabalho.
A cultura
da empresa orienta a administração geral
e esta administração altera a
própria cultura quando necessário, por conta das influências externas citadas,
formando ciclos periódicos de adaptação (mudanças) para a manutenção da competitividade.
A cultura adequada em uma empresa é a que torna
possível a conciliação dos objetivos individuais dos profissionais
com o objetivo coletivo do grupo,
que é a competitividade da empresa.
O capítulo 1 detalhou este assunto.
O sucesso
na implantação das mudanças necessárias,
antes de surgirem as dificuldades
financeiras, depende do Planejamento
e Controle do projeto de adaptação à
nova realidade; da Clareza na
comunicação deste desafio; do Comprometimento
dos contratados em sua aplicação. É comum surgirem resistências às mudanças nos
colegas com convicções mais enraizadas e menos confiantes na sua flexibilidade de lidar com novidades.
Em vista disso, a contribuição dos especialistas em relações humanas do RH
é vital para este sucesso.
E tudo vai bem quando esta administração das
mudanças é competente. Há empresas saudáveis com dezenas de anos de vida, com
muitos ciclos de atualização da cultura
interna.
Quando esta administração do ambiente colaborativo
deixa a desejar ou quando as pessoas com
atribuições não enxergam no tempo certo a necessidade de mudanças e não
propõem os desafios, a empresa perde a
competitividade.
Os problemas que deterioram a competitividade.
A história comprova, com exemplos, que muitas vezes
as crises sérias nas empresas, como a perda da competitividade, iniciam-se com
algumas dificuldades financeiras e são profundamente
agravadas por relacionamentos
inadequados existentes entre os colaboradores internos. Principalmente, mas
não só, nos níveis de direção, aos quais não
foi dada importância enquanto as contas estavam equilibradas. A história não
aponta, mas tudo leva a crer que o início deste descontrole financeiro também tem origem nestes relacionamentos
inadequados (4º pilar), não se menosprezando aqui algumas incompatibilidades
das competências técnicas dos profissionais com as exigências dos respectivos
cargos (1º pilar). Nada é por acaso. A
degradação do clima organizacional é gradual e é possível de ser detectada.
Evidentemente excluem-se desta suposição as
dificuldades iniciadas por fatores externos, fora do controle da empresa, tais
como: catástrofes ambientais, convulsões sociais ou depressão econômica por
período prolongado. Para estes casos também é necessária a agilidade na adaptação
para esta situação. Como esta realidade problemática atinge também os
concorrentes, pode ser a oportunidade para se reestruturar e sobressair nas novas condições do mercado, quando a
crise for contornada.
Relacionamentos inadequados resultam
da Ambição, um tanto acima do limite
que o bom senso recomenda; da Desconfiança,
também acima da recomendação do bom senso, que obscurece a transparência; da Insegurança, que aflora um tanto
exageradamente, acionando os mecanismos de defesa que afetam a imparcialidade
na análise dos fatos; da Intolerância,
um tanto radicalizada, que leva ao desrespeito à dignidade alheia; etc.
Estas características
humanas, combinadas nas mais variadas proporções em todos os indivíduos, quando, em alguma circunstância, atingem um
dos níveis acima citados, geram ações que comumente são interpretadas como não éticas e costumam gerar reações de mesma amplitude e sentido oposto. Algo
comum na humanidade quando as expectativas pessoais são contrariadas. Esta exacerbação das características cria um
ambiente com alto nível de agressividade, pouco
colaborativo, onde as referências comportamentais estabelecidas perdem a
função.
Quando fica afetado o clima de confiança entre os contratados, levantam-se muros virtuais nas
fronteiras entre as equipes, compartimentando as responsabilidades, e criam-se
procedimentos rígidos nas interfaces – denominados controles - buscando
estabelecer evidências ou comprovações,
meramente administrativas e defensivas,
burocratizando o fluxo de informações e serviços que poderia ser mais natural.
Paralelamente criam-se estruturas para administrar estas evidências elaboradas
pelos compartimentos. Estruturas que aumentam
os custos indiretos não voltados à produção.
Nesta estrutura engessada, cada líder procura se
isolar com a sua equipe no seu
quadrado e se dedicar somente às suas atividades programadas, desvalorizando-se
a sinergia entre as equipes.
Desvaloriza-se também a importância da visão
global da produção e, por consequência, a importância do comprometimento
com o objetivo empresarial, que é a rentabilidade
planejada.
Fica abalada seriamente a eficiência na execução dos processos produtivos, pois se perde a agilidade necessária na produção e
também na solução dos imprevistos (fatos novos) que envolvam várias equipes. No
mínimo são afetados os prazos de entrega, com a consequente queda da produtividade.
Nos bastidores a “culpa” pelas dificuldades é
atribuída por uns à incapacidade ou postura inadequada de outros. Cada qual
defende o seu quadrado. A rádio-peão tem sempre boa audiência - o ser humano
adora fofocas - e muitos colegas são influenciados e cooptados pelas “verdades”
irradiadas. Técnica muito utilizada no meio político. Em função disso alguns
colegas viram desafetos e a batalha com o desafeto passa a ser a preocupação
cotidiana, menosprezando o objetivo
coletivo. Inicia-se a bola de neve que leva à perda da competitividade citada no início do capítulo.
O objetivo do profissional é contribuir para o bem comum visando os interesses
próprios, onde não há espaço para antipatias, inimizades e posturas não éticas,
que resultam em ações de guerrilha.
As inimizades
são sentimentos do lado pessoal e
podem ser cultivadas com toda a paixão
fora do ambiente de trabalho. Durante o expediente precisa prevalecer a
parceria.
No entanto, a justificativa oficial mais adotada
pelas “pessoas com atribuições”, para
explicar os maus resultados, refere-se às mudanças “repentinas” do mercado, sem
“aviso prévio”. Constata-se que o mercado tem costas largas e leva a culpa por
todas as dificuldades de comercialização que as empresas possuem. Mas o mercado
é um ente abstrato e não se incomoda
e nem se emociona com a choradeira.
Nele, assim como na natureza, só os que se adaptam
sobrevivem.
A história também mostra que verdadeiros impérios
ruíram, e foram substituídos por outros, desde o início da era industrial. É
coisa antiga. Muitas empresas públicas também passaram por este processo, foram
privatizadas e passaram a dar lucro. Fatos que comprovam que o mercado aberto é
implacável e não aceita ineficiências. Nem sempre as empresas são sufocadas
pela concorrência: suicidam-se.
Os desafios
Como os problemas com o ambiente de trabalho são frequentes e comuns a muitas empresas,
foram publicadas centenas de obras dirigidas para o mundo corporativo, e entre
elas, as que buscam auxiliar as empresas na elaboração de treinamentos para
estimular a motivação, o comprometimento, o foco no trabalho em equipe, o
aprimoramento das lideranças, etc.
Todos estes ensinamentos dão a sua contribuição,
mas nem sempre apresentam resultados suficientes para as empresas que os
aplicam. Isto ocorre porque raramente estes treinamentos nas empresas estão
atrelados às ações estratégicas de um Programa
Global de Melhorias - PGM. A eficiência que leva aos resultados planejados
depende não só de atitudes
profissionais, do comprometimento, mas também de competências técnicas e
gerenciais compatíveis e processos de trabalho
adequados, baseados na fluidez, sem obstáculos nas interfaces das equipes. Isto
além da infraestrutura adequada aos fins. São
os 4 pilares. PGM é um conjunto de
necessidades com foco na
produção: qualidade, custo e prazo,
pois é só isto que o cliente quer para assinar o contrato. O resto não é problema dele.
Os custos deste conjunto, com a inclusão dos custos
das unidades administrativas de apoio,
é que definem a competitividade da empresa. O objetivo de um Programa Global de
Melhorias é reavaliar todos os
pilares e todos os custos e
implantar as mudanças necessárias na cultura da empresa para a elaboração dos
produtos ou serviços competitivos.
É por falta desta visão de “conjunto” do PGM que na
maioria dos casos as ações de treinamento comportamental e de integração não
resultam na mudança cultural e consequentemente na obtenção dos resultados
financeiros pretendidos. A mudança da
cultura visa a reconquista da competitividade e esta exige o aumento da eficiência em todos os processos
produtivos e administrativos, e que precisa resultar na redução dos custos dos
produtos/serviços. Fazer de forma diferente para obter resultados
diferentes. O segundo lugar em uma concorrência ou cotação não traz dinheiro
para a empresa. É preciso oferecer o menor preço entre os concorrentes.
A estratégia para qualquer tipo de recuperação de
um desvio – comportamental ou material - requer inicialmente detectar as
causas que
levaram à degeneração, para que o “conserto” não seja paliativo. Somente depois de detectadas e
eliminadas as causas (por mais difícil ou desconfortável que isto seja neste
caso) é que a nova cultura poderá ser consolidada.
Qual é a causa real que afetou a competitividade e disparou a
necessidade de mudanças?
A resposta a esta questão, obtida no diagnóstico, é
que irá orientar a elaboração do PGM. Se a causa
principal foi a qualidade do
ambiente de trabalho, a estratégia e a elaboração dos respectivos planos de
correção precisam da liderança dos especialistas em relações humanas que
compõem a área de RH. É a sua razão de ser: promover e monitorar a satisfação
dos contratados, o clima organizacional, e agir prontamente
quando detectar o início de um desvio em relação às referências por ela
estabelecidas. A avaliação da
competência do RH também faz parte do diagnóstico.
O ambiente de trabalho colaborativo, saudável, será
construído quando os profissionais incorporarem que somente através da sinergia que o bom relacionamento com os
colegas cria, poderão alcançar as suas
próprias metas. A visão da possibilidade
de sucesso na busca da rentabilidade,
que é o objetivo coletivo, é que leva o contratado ao comprometimento com as
mudanças e à máxima contribuição, inclusive fora da sua área de atuação, do seu compartimento, observando todo
o entorno e interagindo com sugestões. Assim, derrubam-se os muros entre as
equipes, aumentando a confiança.
A criação desta perspectiva de sucesso, acreditar e fazer crer, é o primeiro
passo para a avaliação realista de todos os processos de
trabalho e respectivos custos. A avaliação irá subsidiar a elaboração do diagnóstico, que por sua vez fornecerá
dados para a elaboração e implantação do desafio,
que é a eliminação das ineficiências ou barreiras detectadas. Completa-se desta
forma, e nesta sequência, o conjunto
de ações do Programa Global de Melhorias para restabelecer a competitividade da
empresa. E aí, o ciclo cultural gira novamente.
Reconquistar a competitividade é um grande desafio
e exige determinação do dirigente maior
e sua equipe. Esforçar-se para não a perder ao longo do tempo sai mais em conta
que tentar recuperá-la depois. A prevenção é sempre menos traumática que a
correção. Daí a necessidade de monitoramento contínuo do ambiente externo e
interno, entender o que está se passando no mundo e no teu ambiente. É avaliar
continuamente as tendências do mercado e suas consequências para o estágio
atual da empresa, visto que o mundo é dinâmico e a adaptação a cada nova
realidade é uma exigência para “continuar no jogo”.
A palavra-chave é REINVENÇÃO. A ferramenta é PGM. O
resto é paliativo e gera despesa.
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