GERENCIAMENTO DA MANUTENÇÃO





                                  
 INTRODUÇÃO
Pode-se dizer que uma empresa de prestação de serviços compreende a inter-relação harmônica de quatro fatores: os seus Recursos Humanos, os Recursos Materiais, os seus Usuários/Clientes e finalmente o Ambiente em que se insere a mesma.
O tetraedro composto por estes quatro fatores envolve um sistema complexo de relações mútuas dos mesmos.
Os Recursos Humanos idealizam o produto e operam os Recursos Materiais disponíveis a fim de satisfazer os Usuários do serviço, ou seja, os Clientes.
Assim, o produto para ser assimilado (consumido) deve ter relação próxima das necessidades dos clientes. Tanto essas necessidades quanto as condições para satisfazê-las dependem do Meio Ambiente em que se inserem.
A qualidade do serviço prestado depende essencialmente de quão harmônicas são tais relações, de quão equilibrado é o tetraedro em questão, de quão eficiente é o processo em mudança permanente, instável por natureza.
A abordagem dos aspectos de manutenção e operação compreende assim uma gama ampla de considerações, as quais não devem ser contempladas isolada e independentemente dessa visão sistêmica e dinâmica.
As considerações aqui apresentadas aplicam-se a diversos tipos de prestação de serviços, porém os exemplos abordarão a prestação de serviços de Transporte Urbano sobre Trilhos, ou seja, Metrô e o novo modal VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).

A OPERAÇÃO
Em qualquer que seja o empreendimento produtivo, a Operação é a responsável pela “produção” do produto, que é a razão de ser (objetivo) da empresa.
Se a Operação é a executora das atividades de produção, em uma fase anterior houve a definição do produto/serviço a ser oferecido, com todos os seus atributos e características (qualidade, quantidade e custo), e os meios físicos para materializá-lo. É a fase do projeto, que define as atividades de operação e manutenção para a obtenção do produto colocado à disposição dos clientes.
A grande variedade de sistemas, associada a eventos imprevisíveis na relação com o público, exige uma administração eficiente dos Recursos Humanos e Materiais em uma empresa prestadora de serviços de transporte como o Metrô e VLT.

A MANUTENÇÃO
A Manutenção deve atender a três grandes objetivos.
Em primeiro lugar estão os objetivos da própria Empresa, definidos na fase do projeto e na implantação da planta industrial. Em segundo lugar vem os objetivos estratégicos da Operação e em terceiro lugar os objetivos próprios da Manutenção.
A operação contínua ao longo de quase 20 horas de operação por dia e convivência com eventos não programados ou imprevistos, confere dificuldades especiais para a manutenção de um sistema Metroviário ou de VLT.
Estas características modulam de forma pronunciada as atividades preventivas e principalmente as corretivas, sendo, portanto, de importância vital para o planejamento estratégico da Manutenção.

A ADMINISTRAÇÃO DA OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO
A administração da Operação e Manutenção deve propiciar uma atuação perfeitamente coordenada entre as equipes operacionais e de manutenção, assim como destas com as demais áreas da empresa, com as quais tem interface.

BLOCOS FUNCIONAIS
A boa administração desse processo passa necessariamente pela determinação dos “Blocos Funcionais” caracterizadores da operação da empresa: Sistema Trem e Controle de Via, Sistema Energia, Sistema Estações, etc.
Em cada um destes blocos são determinados o tipo e quantidade de equipamentos necessários, assim como a importância relativa de cada um desses equipamentos no desempenho de uma determinada Função Operacional.
O conjunto das funções deve satisfazer às necessidades definidas no objetivo ou atribuição do respectivo Bloco Funcional.
É bom salientar que um determinado sistema/equipamento pode fazer parte de vários blocos funcionais, aumentando conseqüentemente o seu grau de importância nos planos de Operação e Manutenção.
O planos de Operação e Manutenção são elaborados de comum acordo com todas as áreas envolvidas no processo, seguindo as respostas das questões abaixo, que definem as diretrizes.
  • Qual a política operacional a ser seguida?
  • Quais são as diretrizes do projeto?
  • Quais as alternativas previstas em projeto para eventuais anormalidades?
  • Qual o desempenho esperado de cada bloco funcional, de cada sistema e de cada equipamento?
  • Qual o orçamento previsto?

PLANOS DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO
De posse das diretrizes são elaborados planos de operação e de manutenção, baseados no planejamento estratégico das duas áreas e de comum acordo nas questões de interface.
Com os planos elaborados são definidos e especificados os recursos materiais auxiliares e quantificados os recursos humanos por especialidade.
Uma vez implantados os planos, deve-se partir para a medição dos resultados e a sua correspondência aos objetivos e padrões estabelecidos.
Desta forma, o controle é estabelecido a partir dos objetivos determinados e está relacionado a parâmetros e indicadores que possibilitam a avaliação global dos respectivos planos.

ANALISE DAS CARACTERÍSTICAS PECULIARES DE TRANSPORTE METROVIÁRIO E VLT

RECURSOS MATERIAIS

Equipamentos
Os equipamentos utilizados nos sistemas de transporte metroviário e VLT são exclusivos desta aplicação, majoritariamente de procedência estrangeira e fabricados com tecnologia de ponta nas áreas de eletrônica e eletromecânica na época da implantação.
Porém não é frequente a substituição destes equipamentos em função do avanço da tecnologia. A expansão das linhas é que traz a atualização tecnológica para a empresa, mas quase sempre somente nas linhas novas. Daí a convivência com sistemas e equipamentos de tecnologia variada.
Em decorrência disso, os estoques de sobressalentes precisam atender a vários tipos de componentes com diferentes níveis de tecnologia. A padronização fica dificultada, principalmente para os equipamentos vitais. Uma administração eficiente dos sobressalentes torna-se indispensável, assim como a nacionalização de parte dos equipamentos e componentes, que eventualmente são descontinuados no mercado.

Instrumental e Ferramental
As novas tecnologias, com a maximização de funções e utilização de componentes cada vez mais integrados exigem um instrumental cada vez mais complexo e com nível de precisão cada vez maior.
A maior parte deste instrumental também não é fabricada no território nacional, o que dificulta também a sua própria aferição e manutenção.
Quanto ao ferramental, excluindo-se alguns de uso específico, pode ser adquirido no mercado nacional.

Recursos Auxiliares
A manutenção ao longo da linha não permite a centralização dos recursos humanos e materiais, obrigando a implantação de postos avançados.
Este fato implica em uma administração eficiente dos estoques de componentes e materiais nestes postos, assim como o deslocamento das equipes ao longo da linha. Implica em estratégia, controle e comunicação adequados com os parâmetros de desempenho estabelecidos para a Manutenção.

RECURSOS HUMANOS

Operação
Os profissionais da Operação possuem características próprias. Operam equipamentos encontrados somente em transporte metroviário ou VLT. E o maior diferencial em relação a industrias ou outras prestadoras de serviços é que prestam serviço para um grande número de usuários, de todas as classes sociais, e envolve, além do transporte propriamente dito, a segurança deles no sistema. Como princípio, o usuário deve deixar o sistema nas mesmas condições em que entrou.
Este princípio não permite uma margem de erro, exigindo dos profissionais a concentração e experiência no trabalho sob esta pressão. A análise das possibilidades de ocorrências e a geração de procedimentos de prevenção são atividades sem fim.
Não existem treinamentos externos ou formais no mercado, obrigando a implantação de uma estrutura interna de treinamento.
A formação destes profissionais, com a necessária experiência prática, exige tempo e uma visão de médio e longo prazo.
A política de Recursos Humanos deve estar voltada à preservação destes profissionais, evitando a rotatividade, pelas razões acima expostas, e para tanto os critérios de seleção para contratação devem ser bastante rigorosos. O plano de carreira é vital.

Manutenção
Os profissionais da Manutenção trabalham com equipamentos majoritariamente encontrados somente em sistemas metroviários ou VLT.
A característica do serviço, que pode ser comparada à programação ao vivo de uma emissora de televisão, implica em restabelecimento de funções operacionais em curto espaço de tempo, exigindo uma visão sistêmica e conhecimento profundo de vários equipamentos, principalmente os avaliados como sendo os mais importantes nos blocos funcionais.
A formação de profissionais com estas características também exige tempo e visão de médio e longo prazo. A política de Recursos Humanos também deve estar voltada à preservação destes profissionais pelas mesmas razões da área operacional. O plano de carreira neste caso também é vital.

Treinamento
Conforme descrito anteriormente, a formação adequada dos profissionais de todos os níveis obriga a implantação de uma área interna de treinamento sistemático, cujos objetivos são:
·        Uniformizar os conhecimentos básicos do sistema de transporte metroviário em todos os profissionais envolvidos na operação e manutenção.
·        Aumentar os conhecimentos técnicos específicos dos profissionais das diversas áreas da Operação e Manutenção (especialização e atualização).
·        Uniformizar os conhecimentos organizacionais da empresa (inter-relação dos diversos órgãos)
·        Facilitar os relacionamentos interpessoais (funcionário/funcionário, funcionário/empresa e funcionário/público externo).

Supervisão da Manutenção
Como foi visto nas características do serviço, existem muitas frentes simultâneas de trabalho – organização horizontal.
As atividades de correção de falhas de várias destas frentes não são programáveis com antecedência, exigindo uma organização ágil e eficiente, baseada na Supervisão de primeira linha experiente, com visão global do sistema e da sua área de atuação.
A formação de um Supervisor deve levar em conta que esta função é a interface entre as metas estabelecidas e a sua realização.

CONTROLE

Paralelamente ao estabelecimento do objetivo e ao planejamento da implantação da estrutura de Manutenção, deve ser definido o Sistema de Controle que irá fornecer as informações de desempenho de cada etapa do processo.
Considerando-se que o objetivo da Empresa define o produto e o custo, e o planejamento estratégico da Manutenção baseia-se nestas definições, o Sistema de Controle deverá permitir a avaliação dos resultados através de indicadores apropriados e fornecidos a todos os níveis hierárquicos com poder de decisão.
Para cada nível, os indicadores específicos da sua área de atuação.
Em empresas desta prestação de serviços o produto é avaliado pelo usuário (cliente) e, portanto, o sistema de informações também deve levar em conta este indicador, que por sua vez pode desencadear todo um processo de reavaliação dos padrões adotados.
Assim o sistema de controle deve permitir a sua própria atualização, sem perda de continuidade.

PLANEJAMENTO DA MANUTENÇÃO

O planejamento da manutenção baseia-se em 5 itens:
1.   O que devo manter?
2.   Com que padrão devo manter?
3.   Com quanto (R$) devo manter?
4.   De quem dependo para manter?
5.   Que informações devo fornecer?

Na análise de cada uma destas questões depara-se com um conjunto de respostas, as quais, se claramente abordadas, auxiliarão na definição e dimensionamento das atividades e, portanto, levará ao Gerenciamento da Manutenção.
O primeiro questionamento a ser efetuado se concentra na questão “O que devo manter?”.
Obtidas as respostas básicas, deve-se, num ciclo contínuo, questiona-las novamente (cada resposta, uma a uma) a fim de definir clara e objetivamente o campo de atuação (atribuições e responsabilidades).

A seguir, um exemplo de questionamento de um dos sistemas/equipamentos possíveis (sistemas eletrônicos). Entretanto este exercício deve ser aplicado em todos os demais sistemas.

O que devo manter?
Sistemas e equipamentos eletrônicos

Que tipo de sistemas e equipamentos?
·        De comunicações
·        De controle
·        De sinalização

Quais são estes equipamentos?
·        Comunicações: rádio, telefonia, CFTV, etc.
·        Controle: computadores, periféricos, sensores, etc.
·        Sinalização: transmissão de dados, etc.

Qual a tecnologia empregada nestes equipamentos?
      Para cada equipamento deve ser discriminada a tecnologia utilizada.

Pelos questionamentos até aqui desenvolvidos, verifica-se que para cada resposta novos questionamentos podem e devem ser feitos. Neste sentido, seguem mais algumas perguntas.
·        Quantos são os equipamentos por tipo?
·        Onde estão instalados?
·        Quais são os equipamentos importados?
·        Quais são os fornecedores dos equipamentos?
·        Quais são os equipamentos vitais para a operação/produção?
·        Quais equipamentos possuem componentes de vida útil limitada?
·        Quais os instrumentos necessários para a manutenção de cada equipamento?

Esgotados os questionamentos referentes a “O que devo manter” suficientes para avaliar o campo de ação, associa-se a estas respostas os demais questionamentos.

Com que padrão devo manter?
Esta resposta deverá ser fornecida pela Direção da empresa na forma de padrões técnicos e não técnicos.

Exemplo de metas da Direção da empresa:
·        Disponibilidade de 99,9% no período de operação.
·        Conservação do equipamento para uma vida útil de 15 anos.
·        Tempo máximo de liberação (TML) de 15 minutos por falha com perda de função.

Estes parâmetros foram evidentemente levados em conta na fase de projeto dos sistemas e especificação dos equipamentos.

Com quanto devo manter?
Também esta resposta será obtida de forma global da direção da empresa. Portanto, qualquer que seja o ramo de atividade, deve sempre haver uma previsão orçamentária de tal forma que possa contemplar as necessidades diretas da Manutenção.
A liberação de qualquer verba se sujeita a regras específicas de cada empresa. Dessa forma, para a manutenção e aquisição de recursos materiais e humanos, a liberação ocorre após um determinado período (semanas, meses, etc). Portanto, os gastos devem ser planejados e programados.

Para o planejamento é necessário dividir o orçamento em alguns itens principais, tais como:
·        Sobressalentes de giro
·        Sobressalentes de consumo
·        Materiais de consumo
·        Salários
·        Serviços de terceiros
·        Instrumentos
·        Ferramentas
·        Etc.

Logicamente o questionamento “com quanto devo manter” está relacionado diretamente a questões “o que devo manter” e “com que padrão devo manter”.

De quem dependo para manter?
Neste caso pergunta-se basicamente com quais áreas deve-se se relacionar para alcançar os objetivos da empresa, assim como os objetivos da Manutenção.

Esta questão fica mais transparente quando está claro qual o universo de sistemas/equipamentos, quais as atividades que neles são desenvolvidas e, principalmente quais são as necessidades materiais e humanas.

Neste sentido realçam-se os seguintes relacionamentos ou interfaces.
·        Área de Operação/Produção
·        Área de Materiais / Compras
·        Área de Recursos Humanos
·        Área de Engenharia e Projetos
·        Área de Almoxarifado
·        Fornecedores de equipamentos.

Além destas áreas de relacionamentos ou interfaces, deve-se ter claro, tanto externa quanto internamente, quais são os mecanismos de comunicação oficial utilizados na troca de informações, ou seja, relatórios, memorandos, telefone, rádio, etc.

Portanto, devem ser criados e oficializados os mecanismos de registro destas comunicações.

Que informações devo fornecer?
Esta questão objetiva basicamente definir quais as informações que a manutenção deve desenvolver para:
·        Administrar a usa própria área.
·        Fornecer para outras áreas.
·        Solicitar de outras áreas.

Além disso, devem ser definidas em que periodicidade estas deverão ser divulgadas / recebidas.

A seguir estão algumas destas informações / indicadores.

Diretoria
·        Disponibilidade (quinzenal)
·        Gastos (mensal) 
·        TML (quinzenal)
·        TML maior que 15 minutos (sempre que ocorrer)

Operação
      Programação das atividades para liberação dos acessos (diário e semanal)

Materiais
·        Sobressalentes mais usados (condicional)
·        Estoque mínimo (semestral)

Engenharia
·        Total de falhas por equipamento (mensal)
·        TML por equipamento (bimestral)

GERENCIAMENTO DA MANUTENÇÃO

O gerenciamento é responsável pela organização e controle das atividades da manutenção no que se refere a:
·        Controle da disponibilidade dos sistemas/equipamentos
·        Organização e controle da mão de obra, dos sobressalentes, dos equipamentos, ferramentas, etc., necessários para a execução das suas atividades/atribuições.

Exemplo de algumas das ferramentas que o gerenciamento da manutenção utiliza a fim de bem administrar.
·        Planejamento
Definição das atividades e alocação no tempo e sequência em função das prioridades estabelecidas.
·        Controle
Indicadores e índices
Padrões técnicos e não técnicos
Sistema de informações
Apontamento de dados sobre as atuações.

Controle
O controle nada mais é que a aferição dos gastos e do desempenho (técnico e humano) em relação a um padrão, e a correção dos desvios para assegurar a realização das metas e objetivos estabelecidos.     
“A Manutenção só pode se eficiente se, e somente se, houver controle”
“Tudo pode ser melhorado. Aquilo que não tem controle pode ser muito melhorado”.
“Acima do controle, porém associado a ele, deve existir a análise”.
Portanto, na manutenção, ao se implantar um plano, é necessário criar um sistema de controle que possibilite a avaliação contínua dos seus resultados.
Dessa forma, o sistema de controle deve propiciar basicamente 3 itens, todos inter-relacionados.
·        Controle dos trabalhos (planos de manutenção)
Tem por objetivo subsidiar a harmonização da mão de obra, sobressalentes e equipamentos/ferramentas com a carga das atividades de correção e prevenção.
·        Controle das condições operacionais dos equipamentos (desempenho)
Tem por objetivo a avaliação do estado dos equipamentos e respectivos desempenhos ao longo do tempo.
·        Controle dos custos
Tem por objetivo acompanhar os custos de manutenção em todas as áreas, principalmente as de alto custo e orientar o programa orçamentário.

CONCLUSÃO
Do exposto, conclui-se que a Manutenção não se restringe unicamente às atividades de um “plano de manutenção”, isto é, de reparo e prevenção.

Além disto, a Manutenção precisa e deve criar mecanismos de comunicação, de controle e organização de tal forma que possa se enquadrar nas diretrizes maiores da empresa, ou seja, suas metas e objetivos.

Por outro lado, as metas e objetivos traçados sem a visão real da importância do processo eficiente de manutenção, tendem a não ser concretizados tanto no tocante a produção quanto no tocante a custos.














































                                                 
























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