DEMISSÕES EM MOMENTOS DE CRISE


É preciso definir primeiro o que será e quanto
será produzido após o corte.

Pronto. Aconteceu o pior. A direção da empresa decidiu pela diminuição dos custos da folha de pagamento.
Já que é um fato consumado, como deverá ser conseguida a economia solicitada?
O valor deverá ser conseguido por um corte linear, onde todos os departamentos deverão dar a sua contribuição em valores, independentemente do número de funcionários, ou, além do valor, também um número de funcionários deverá ser atingido?

A questão é complexa, envolve muitos aspectos, mas o primordial não é escolher quem será demitido e sim escolher quem irá executar as atividades futuras. Então é preciso avaliar quem são os mais capacitados para atender a estas necessidades futuras, e a partir daí obter quem poderá ser desligado.

Para isto, é preciso definir primeiro o que será e quanto será produzido pela empresa após o corte.

Esta adequação para a nova realidade precisa ser muito bem planejada, pois trata-se da implantação de um novo processo de trabalho. Os novos objetivos da empresa devem orientar os novos processos produtivos e estes devem orientar a adequação dos recursos físicos, materiais e humanos, em quantidade e qualidade.
O planejamento a ser utilizado na administração da crise deve ter a mesma qualidade que o planejamento utilizado na implantação da empresa e no seu crescimento. É o renascimento.

Mas em uma crise, quantas empresas fazem esta adequação de custos em função de um planejamento estratégico detalhado para a estabilização?
É comum se ouvir “Vamos cortar e depois daremos um jeito”. 
Não é à toa que estas empresas convivem com crises periódicas.

Nestas circunstâncias não é rara a utilização de critérios estranhos (idade, salário, simpatia, amizade, etc.) para a elaboração da lista de demissão.
“Olha, eu considero você um bom profissional, mas tenho que demitir algumas pessoas e infelizmente você foi incluído na lista.” 
“Mas por que eu?”
Aí vem um ‘colar de pérolas’, visto que, não havendo o detalhamento das atividades futuras, não há referência para a definição das competências e experiências profissionais que serão necessárias, e, portanto, não há como justificar com transparência a escolha realizada.

Pronto. O serviço está feito conforme solicitado.
Se na empresa surgirem dificuldades amanhã, e elas surgirão, a culpa é do corte.
Mas o corte não foi feito para eliminar as dificuldades?
Sem critérios objetivos, sem análise imparcial do histórico profissional e sem visar as atividades futuras, perdem-se talentos, reforçam-se os feudos e as dificuldades ganham um vasto campo para prosperar.

E nestas crises ninguém nos níveis superiores discute as justificativas da escolha e nem os critérios adotados individualmente pelas chefias.
“Eu só quero os nomes, não quero saber dos critérios”. 
Na maioria dos casos o RH somente recebe a lista, não participa do processo de escolha.
Então para que serve o sistema de avaliação de desempenho da empresa se não for para reconhecer os talentos adequados para as atividades futuras?

O mais triste é que em algumas empresas, após a assinatura do comunicado de demissão, recolhe-se o crachá e o ex-funcionário tem acesso somente a uma salinha do Departamento Pessoal perto da recepção. O colaborador de ontem hoje virou um estranho.
Como esta mudança de tratamento reflete nos funcionários remanescentes? Para onde vai o comprometimento dos que ficaram?

Não dá para ir contra as demissões, como medida extrema de redução de custos, mas para a empresa ter chances no futuro, não deveriam ser incluídos na lista os que deixaram a empresa chegar a este ponto? As palavras “análise”, “tendência” e “antecipação” são antigas e todos conhecem o significado.
Cá entre nós, colega, a culpa não é só do mercado.
Não custa refletir um pouco a respeito, não é verdade?

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