SER CHEFE OU ESPECIALISTA - A CARREIRA EM Y


É possível ser feliz liderando ou sendo liderado.

Uma das grandes dúvidas dos profissionais surge na tomada de decisão entre seguir na carreira técnica ou migrar para a gerencial, entre ser um especialista ou chefiar pessoas, a Carreira em Y.

E o engano que normalmente se comete, ou é induzido a cometer, é imaginar que a promoção em qualquer carreira é assumir função de chefia.

Promoção é um termo incorreto quando alguém sai de uma função de executor ou especialista para uma de líder formal, isto é, um cargo gerencial. Na realidade, além de mudar de atribuição, está mudando de carreira. Ela não é superior e nem inferior, é outra carreira. Como são atividades distintas, não há transposição automática, apesar da carreira gerencial também precisar de certo conhecimento técnico para interagir com os liderados e às vezes com o mercado.

As carreiras, técnica e gerencial, requerem perfis ou talentos diferentes dos profissionais. Da mesma forma que alguns têm aptidão para ciências exatas e outros para humanas ou biológicas, alguns têm mais facilidade para a função técnica e outros para a gerencial.

A transposição da carreira técnica para a gerencial não pode ser recompensa pelo desempenho na função anterior. Deve ser a descoberta de um talento com potencial para outro tipo de contribuição que o profissional poderá trazer nesta nova função. Não é pré-requisito que ele seja o mais bem preparado tecnicamente entre todos os técnicos da equipe. E é bem provável que na carreira técnica o seu futuro não será tão brilhante. Se a razão principal da mudança é um prêmio pelo desempenho na função anterior, corre-se o risco de se perder a contribuição de um excelente técnico e não se obter a contribuição de um líder. Existe a possibilidade real de ocorrer a inadaptação à função gerencial, e aí a carreira do profissional fica estagnada no primeiro nível. Isto se não perder o emprego.

A função técnica significa não chefiar pessoas. Pode ser um operador de máquina, um técnico de qualquer especialização, um professor, um pesquisador ou mesmo um assessor da Presidência. Pode ser um cientista ou um excelente vendedor. É um especialista em um determinado assunto e com um vasto campo para o seu crescimento.

Na área técnica a evolução na carreira ou promoção é de nível técnico 1 para nível técnico 2 e assim por diante até a função de técnico altamente especializado ou consultor, se tudo der certo. O aumento da abrangência e/ou da profundidade do conhecimento é que determina a passagem de um nível para outro e caracteriza a promoção. A remuneração pode ser maior, igual ou menor que a dos supervisores ou gerentes. O mercado (oferta e procura) é que regula a remuneração de cada grau e tipo de especialização.

Na área gerencial a evolução da carreira ou promoção é de supervisão para gerencia, depois para direção e para alguns poucos até à presidência, principalmente em função da abrangência do conhecimento - visão do mercado e o planejamento e administração dos processos produtivos. E é o mercado também que determina a remuneração para cada nível de chefia.

De uma forma geral esta vontade de ser chefe vem desde o início da era industrial, quando era a única forma de obter o status (reconhecimento) e remuneração maior. Isto levava um técnico a almejar uma carreira gerencial, em busca desta remuneração maior e também o orgulho de se sentir importante e poder dizer: “eu comando esta equipe”.

Mas hoje o mundo corporativo é outro, a tecnologia é outra, as necessidades de organização e mão de obra são distintas das gerações anteriores. Nas empresas atuais, de uma forma geral, chefiar não é mais comandar (mandar fazer e cobrar). Significa liderar as pessoas. É mobilizar as pessoas do seu grupo em torno de um objetivo ou meta. E a atitude eficaz é a de um líder servidor, que providencia os meios e orienta as atividades em um ambiente saudável de convivência.

Esta dúvida, em que direção seguir, aparece também porque no fundo todos são atraídos pela melhor parte de cada braço do Y, não levando em conta aquilo que vem junto no pacote. Um banho de realidade às vezes traz a frustração e mostra o engano na escolha da função ou da especialização.

Por exemplo: não ser responsável pelas atividades e atitudes dos outros e não ter a responsabilidade de avaliar oficialmente o desempenho dos colegas é uma maravilha. Basta se preocupar em estar atualizado tecnicamente e em profundidade na sua especialização para ter chances de obter o reconhecimento e a promoção na função de especialista. No entanto, é indispensável um esforço contínuo para esta atualização, já que a tecnologia, de tempos em tempos cada vez mais curtos, muda radicalmente. Sem este grande esforço, que demanda tempo, dedicação e às vezes sacrifício de alguns outros prazeres, o reconhecimento não vem e a carreira não deslancha. Requer vocação e escolha certa da especialização.

Por outro lado, participar das decisões estratégicas do setor ou da empresa, ou ainda, ter o poder de decisão sobre como realizar o trabalho, envaidece. Demitir pessoas ou remanejá-las para onde elas não gostariam de ir, não é tão agradável assim. Avaliar e preterir um colega em uma promoção ou demiti-lo, principalmente um colega de longa convivência, é algo complicado, porém muitas vezes necessário. Nem todos administram isto com tranquilidade e principalmente com imparcialidade.

Procurar estimular a motivação nos seus liderados para realizar bem uma tarefa e, no entanto, enfrentar argumentações contrárias, não é fácil de digerir. Alguns técnicos se irritam um pouco, e às vezes muito, quando têm as suas conclusões, sugestões ou execuções questionadas pela supervisão. Uma avaliação de desempenho não favorável nem sempre é aceita como correta pelo liderado. Questiona-se a competência do líder.

Mas é preciso aceitar e conviver com isto no ambiente de trabalho, pois não há como um cargo técnico não prestar ou fornecer serviços a um cargo gerencial. E o supervisor imediato precisa avaliar o serviço pelo qual é responsável. É uma das suas atribuições. E não há como escapar da avaliação (buscando um cargo de chefia) porque os cargos gerenciais também são avaliados da mesma forma, aliás, duplamente: pelos seus líderes e pelos seus liderados. É a ação e reação natural (fenômeno chamado pressão) existente em todas as empresas. E para administrar esta pressão nos relacionamentos é preciso vocação.

A solução é incentivar e ajudar o profissional na busca do autoconhecimento, para que ele chegue a uma conclusão do que realmente lhe traz satisfação, em qual especialização e em qual função, e onde fluirá todo o seu potencial, que é o que a empresa precisa. É ajudá-lo a tirar as dúvidas e se encontrar com a sua vocação.

A divulgação dos planos das carreiras técnica e gerencial, indicando as atribuições e responsabilidades bem detalhadas e as remunerações das etapas, ajudam o profissional a identificar a sua vocação.

É possível ser feliz liderando ou sendo liderado.

Quando o profissional faz esta escolha consciente, consegue concentrar-se na gestão da sua carreira técnica ou gerencial. Estabelece o foco. E com o tempo consegue as promoções no braço do Y escolhido.

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